EXCHANGES w/ Turkers Return to Chats Read about the project in English.
Sobre

Em parceria com o aarea, o Grupo de Experiências Críticas em Infraestruturas Digitais (GECID) apresenta aqui "Exch w/ Turkers", um website que evidencia o papel de humanos nas Inteligências Artificiais (IAs) e suas condições de trabalho. Embora frequentemente apresentadas como automáticas e autônomas, as IAs dependem do trabalho de muitos humanos. Nas janelas de bate-papo deste projeto, é possível conversar com algumas dessas pessoas que realizam os Human Intelligence Tasks (HITs), pequenas tarefas que são utilizadas para construir os bancos de dados das IAs. Este trabalho é marcado por uma lógica de pertencimento nulo diante do que que se constrói e de baixíssima remuneração – enquanto o salário mínimo nos EUA é de 7,25 dólares por hora, esses trabalhadores remotos recebem em média não mais que 2 dólares / hora.

Quem são os Turkers?
Atualmente, cerca de 500.000 pessoas realizam esse tipo de trabalho digital na plataforma Amazon Mechanical Turk (MTurk), mantida pela empresa norte-americana Amazon. Eles são chamados de Turkers e aqui há uma explicação para saber o porquê. Uma pesquisa realizada por Difallah et al (2018) mostra que 75% deles são dos EUA, 16% da Índia e os 9% restantes de outros países. Estima-se que 2 mil a 5 mil trabalhadores podem ser encontrados na plataforma a qualquer momento (Ipeirotis, 2018).

A massa de trabalhadores deste subsolo das práticas tecnológicas aumenta a cada dia e é considerada “the final telos of algorithmic labor” (Finn, 2017). Trata-se da nova conquista da economia capitalista algorítmica, a do “não lugar” de trabalho, território tão diluído quanto difícil de se regulamentar. Consideramos também que é um caso prático do que Marx chama de externalização (entausserung) que faz não apenas o trabalho se tornar algo com existência externa, mas também que existe fora do criador. Pesquisadores utilizam termos como "infoproletariado" (Antunes e Braga, 2018, além de Grohmann, 2018) para caracterizar o conjunto desses trabalhadores. A oportunidade dos Turkers conhecerem e estabelecerem contato entre seus pares trabalhadores é praticamente nula, o que impede a articulação da categoria em torno de uma regulamentação trabalhista, por exemplo. Como reação a isso, "Exch w/ Turkers" reserva um espaço exclusivo para os Turkers conversarem entre si, podendo ser somente visualizado pelo público geral.

Para realizar "Exch w/ Turkers", publicamos uma chamada de participação no próprio Amazon Mechanical Turk (MTurk). A partir daí, foram selecionados 5 Turkers de perfis variados, contratados para trabalhar 30 minutos por dia (com exceção de domingo, dia livre) respondendo as perguntas do público participante. Este tempo foi estimado de modo a não se sobrepor a suas cargas horárias rotineiras, e o valor hora/trabalho pago foi de 16 dólares.

Como funciona o Exchanges with Turkers?
A estrutura deste website segue a lógica dos chats da década de 1990, época em que a internet ainda não se via dominada por grandes plataformas e pelo capitalismo de vigilância. A qualquer momento, você pode iniciar uma conversa com um desses profissionais. Para enviar sua pergunta, sugerimos que você leia antes o perfil deste no símbolo “?” – isso irá permitir saber um pouco mais de seu contexto.

Na contramão da instantaneidade dos meios de comunicação atuais, os Turkers não estarão on-line de prontidão para responder todas as mensagens em tempo real. Para atuarem no site, foi elaborado um contrato e um conjunto de compromissos pautados por questões éticas que pode ser acessado aqui.

Por que isto importa?
Parte considerável da ideia de “automatismo” só se viabiliza graças a uma ampla exploração de forças de trabalho produzidas por humanos – o que nos permite afirmar que parte dos sistemas das IAs são, na verdade, não processos resultantes de máquinas “inteligentes”, mas de máquinas com humanos inteligentes. Enquanto engenheiros, programadores e outros profissionais do campo das IAs são remunerados de acordo com um teto salarial médio praticado (além de terem visibilidade), os Turkers aqui dispostos a dialogar com o público são invisibilizados a ponto de serem considerados “ghost workers”. Mesmo que momentaneamente, queremos tirá-los da abstração da nuvem e repensar de forma radical o mundo do trabalho em uma sociedade tecnocapitalista. Para isso, nada melhor do que dialogar com aqueles que estruturam esse sistema e que praticamente nunca são considerados.

* Exch w/ Turkers é um projeto concebido e desenvolvido por Bruno Moreschi, Bernardo Fontes, Guilherme Falcão e Gabriel Pereira, do Grupo de Experiências Críticas em Infraestruturas Digitais (GECID) / Grupo de Arte e Inteligência Artificial (GAIA) / C4AI, InovaUSP. Uma parte importante da programação do site foi realizada por Luciano Ratamero, a quem agradecemos imensamente pelo comprometimento. O projeto "Exch w/ Turkers" no aarea tem consultoria e infraestrutura de tecnologia de Adriano Ferrari. Apoio do Center for Arts, Design, & Social Research (CAD+SR); Pedro Barbosa e Research and Collaboration Awards on the Histories of AI: A Genealogy of Power - Sawyer Seminar, Universidade de Cambridge.

* O projeto estará em exibição no site www.aarea.co entre 13 e 27 de março, de modo que permite a oportunidade de diálogo com os Turkers. Após essa data, o site migra para o endereço exchanges.withturkers.net, onde a pesquisa sobre os Turkers seguirá em desenvolvimento.

* Para mais informações sobre osTurkers, recomendamos começar com essa lista de leituras.